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Vozes e vultos: alucinação ou percepção extra-sensorial?

Entre 5 e 15% das pessoas1 relatam percepções ou experiências que fogem ao que convém chamar de 'realidade'. Ouvir vozes ou ver vultos são das mais comuns, e figuram na história de todos os povos e épocas, das mais sublimes inspirações e visões dos profetas, aos mais trágicos casos de loucura.

Quem experimenta tais fenômenos raramente o afirma publicamente, assim evitando a zombaria ou desprezo social, por ser considerado 'louco'. Portanto, as vozes e vultos são as vezes bem 'reais' para o indivíduo, podendo ser até confundidos com a realidade objetiva. A informação cerebral proveniente dos sentidos físicos pode estar em conflito com o que é de fato percebido, gerando confusão mental. Este fenômeno é considerado normal numa certa medida e somente se torna patológico quando a sua frequência ou intensidade traz prejuízo ao equilíbrio mental da pessoa.

As vozes de Joana d'Arc, a transfiguração do Cristo e a forma universal de Krishna.

Na era da razão e da ciência moderna, sem maior explicação acerca da sua origem, tais fenômenos são reduzidos a meras alucinações.

O que é uma alucinação?

A psiquiatria define a alucinação como 'percepção de algo que não existe objetivamente, é uma impressão subjetiva de que algo é real sem estímulo externo', e seria o produto da mente, simulando percepções comumente associadas aos sentidos. Embora surge de maneira espontânea na maioria dos casos, ela pode ser induzida por meio da sugestão hipnótica ou do uso de drogas psicotrópicas alucinógenas, o que levou pesquisadores a atribuir toda e qualquer percepção anormal à cômoda teoria da alucinação.

Esta teoria parte do pressuposto de que tudo que é 'real' deve forçosamente ser percebido por um órgão sensorial físico. Como veremos, esta teoria se torna incompleta e questionável em face da percepção extrassensorial (ESP em inglês), que demonstra a capacidade natural do ser humano em perceber ou 'sentir' além dos cinco sentidos.

Esquizofrenia

A ocorrência frequente de alucinações pode levar o individuo a acreditar-se portador de uma doença como a esquizofrenia. Os sintomas positivos2 da esquizofrenia são; ideias delirantes, pensamentos irreais; alucinações; pensamento e discurso desorganizado; alterações visíveis do comportamento, ansiedade excessiva, impulsos ou agressividade constante na fase de crise.

Como podemos ver, as alucinações em si não justificam tal diagnóstico, visto que o individuo que ouça vozes ou vê vultos pode estar mentalmente coerente. A seguir, um resumo das teorias2 que buscam explicar a causa da esquizofrenia: A teoria genética sugere uma causa hereditária, embora 80% dos casos não possuem antecedentes na parentela imediata. A teoria neurobiológica ou dos neurotransmissores aponta possíveis alterações bioquímicas e estruturais no cérebro. A teoria psicanalítica aponta 'a ausência de relações interpessoais satisfatórias' ou a falta de atenção parental ou familiar para com o infante.

Nenhuma das teorias acima foi até hoje comprovada experimental ou empiricamente. 'Apesar de existirem todas estas hipóteses para a explicação da origem da esquizofrenia, nenhuma delas individualmente consegue dar uma resposta satisfatória às muitas dúvidas que existem em torno das causas da doença, reforçando assim a ideia de uma provável etiologia multifatorial.'2
O tratamento da esquizofrenia é paliativo na maioria dos casos e consiste no controle dos sintomas pelo uso de medicamentos antipsicóticos, que apresentam resultados moderados. Infelizmente, alguns pacientes descontinuam o tratamento devido à sua ineficácia ou efeitos colaterais intoleráveis.3,4 A terapia cognitiva comportamental apresenta bons resultados em certos indivíduos. No caso de um diagnóstico positivo, o acompanhamento com um psiquiatra competente se faz necessário.

Não obstante, perante o êxito questionável da abordagem convencional, tanto na explicação das causas da alucinação, quanto no seu tratamento, julgamos necessário considerar a sua possível causa anímica ou extra-sensorial.

A percepção extra-sensorial

Como apontamos em outro artigo sobre a despersonalização5, para a ciência moderna, a mente ou consciência no ser vivo é produto da atividade neuronal,6 enquanto na psicologia transpessoal e parapsicologia, é exatamente o contrário: a mente é causa, arquiteta e dirigente do corpo físico. Essa dicotomia mente/corpo, ao invés da corpo/mente moderna, encontra apoio na somatização de sintomas reais e visíveis, como os casos de ferimentos ou hematomas obtidos por sugestão hipnótica.


A mente preexiste à organização molecular do corpo na fase uterina e sobrevive à sua desagregação pela 'morte'. Em outras palavras: a alma humana. Ampliado o conceito de mente para o plano extra-físico, independente do corpo, muitos fenômenos aparentemente inexplicáveis ou atribuídos à causas neurológicas são analisados e explicados de maneira mais racional.


Vozes e vultos

Se não é justo atribuir qualquer percepção anormal à alucinação, também não é justo atribui-las todas à uma causa extra-sensorial. De acordo com o médico e terapeuta transpessoal Alberto Almeida, cada caso é diferente, e é particularmente difícil distinguir a alucinação esquizofrênica da percepção extra-sensorial, visto que a própria mente pode gerar imagens, sons e cenas inteiras. A diferença se torna mais clara quando o conteúdo da percepção não poderia ser o produto da imaginação do individuo, conforme veremos a seguir.

A visão de vultos, seres, luzes ou objetos que não estão presentes é fenômeno definido como clarividência, tratada aqui como capacidade natural do ser consciente, sem a sua conotação mística. Simplificando ao máximo, podemos dizer que é a mente que 'vê', sem o uso dos órgãos da visão. Este fato é demonstrado pelo sonâmbulo, que embora adormecido, se movimenta em completa escuridão e interage, abre portas, apanha objetos, mesmo em um ambiente que lhe é completamente desconhecido. Convém concordar que uma pessoa não pode 'alucinar' com exatidão um ambiente totalmente escuro que nunca visitou. Da mesma forma, a audição de sons ou vozes sem estimulo externo aparente, também chamada de clariaudiência, pode ser uma percepção legítima sem o uso dos ouvidos, o que dá a impressão que se ouve/ouça de dentro da cabeça.


Sendo a mente independente do corpo físico, a consequência lógica disto é a sua sobrevivência ao fenômeno de desvinculação que chamamos de 'morte'. Os seres percebidos, de uma maneira ou outra, são nada mais, nada menos, que seres humanos como nós, que continuam ativos em uma dimensão vibracional diferente, paralela à nossa: a dimensão puramente mental, da qual também somos parte integrante e atuante pelo pensamento. Esta abordagem explica de maneira racional uma multitude de fenômenos atribuídos ao supernatural ou paranormal.

Considerando o alcance da teoria exposta, é inevitável abordar certas questões filósofo-religiosas, sem portanto adentrar as questões teológicas ou dogmáticas. Todos os sistemas filosóficos e religiosos, modernos ou antigos, tem como base o intercâmbio entre os dois planos supracitados. A  percepção extra-sensorial é o fenômeno pelo qual se produz as visões, as vozes, inspirações de todos os profetas, iluminados e gênios da história. Para outros, esta percepção pode se tornar motivo de aflição, quando o seu conteúdo é perturbador e a sua manifestação indesejável. A natureza do conteúdo resulta da condição psíquica e das questões anímicas (da alma) de cada individuo. A percepção extra-sensorial é capacidade neutra e natural no ser humano, embora mais desenvolvida em certos indivíduos, ela não constitui um 'dom' particular.
Se os médicos são mal sucedidos, tratando da maior parte das moléstias, é que tratam do corpo, sem tratarem da alma. - Sócrates

Tratamento, profilaxia ou adestramento?

De forma geral, o diagnóstico clínico vigente não leva em conta a abordagem transpessoal ou parapsicológica. Isso significa que uma pessoa diagnosticada como esquizofrênica, pode não ser portadora da patologia, mas da sensibilidade psíquica que lhe permite a percepção extra-sensorial do plano mental. Se tal percepção é natural, e não de origem patológica, então não há necessidade de 'tratamento' no sentido comum desta palavra. Este fato é dificilmente compreendido, principalmente quando o individuo se queixa da confusão mental resultante das ditas alucinações. Por ser de difícil distinção, mesmo para um profissional versado nas questões anímicas, recomendamos que o tratamento psiquiátrico seja acompanhado da avaliação espiritual do individuo.

Se a abordagem psicológica e psiquiátrica possui várias vertentes, a espiritual varia ao infinito. Embora o mecanismo da percepção extra-sensorial seja o mesmo em todos os indivíduos, cada sistema ou credo o trata de maneira diferente. Em próximo artigo, abordaremos o que convêm chamar de tratamento espiritual, e como uma aparente moléstia pode as vezes se transformar em um benefício para o individuo.

Simon Baush


Referencias
1https://www.scientificamerican.com/article/voice-hearing-by-the-numbers/
2https://pt.wikipedia.org/wiki/Esquizofrenia
3https://www.researchgate.net/publication/252307874_Effectiveness_of_modern_antipsychotic_drugs_for_the_treatment_of_schizophrenia_and_other_psychotic_disorders_Therapeutic_progress_or_more_of_the_same
4https://www.nejm.org/doi/full/10.1056/NEJMoa051688
5http://doencas-da-alma.blogspot.com/2017/11/fora-de-si-despersonalizacao.html
6"Sem comprovação experimental alguma, esta teoria é de tal forma enraizada no pensamento moderno que quase ninguém se preocupa em questioná-la, adquirindo o caráter de um verdadeiro dogma científico. É na sua própria conceituação da mente humana que os pesquisadores encontram o maior obstáculo na observação da mesma."

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